A gestão das urnas eletrônicas nos 217
municípios do Maranhão ficará a cargo de uma empresa cujo dono tem
vínculos com o marido da governadora Roseana Sarney (PMDB), Jorge Murad.
E ainda há indícios de ligação com o próprio candidato a governador do
grupo político do ex-presidente José Sarney, o senador Lobão Filho
(PMDB).
Vencedora de uma licitação promovida pelo
TRE-MA (Tribunal Regional Eleitoral), a Atlântica Serviços Gerais foi
contratada em 28 de agosto por R$ 2.999.499 para cuidar de uma série de
serviços com as urnas no dia da eleição.
A firma deverá colocar 616 empregados
para fazer, entre outras coisas, transporte e armazenamento dos
equipamentos, troca de máquinas com defeito, carregamento de softwares e
transmissão dos resultados para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Até 2010, parte disso era feito por uma
única empresa contratada pelo TSE. Neste ano, o leque de atividades
terceirizadas aumentou e a contratação foi descentralizada. Cada um dos
27 TREs faz a sua.
A Atlântica pertence ao empresário Luiz
Carlos Cantanhede Fernandes, que tem ligações com membros do clã Sarney,
que domina a política local há décadas.
Em 2002, quando Roseana era pré-candidata
à Presidência pelo PFL (atual DEM), Cantanhede ficou conhecido quando a
Polícia Federal, numa apuração sobre caixa dois, apreendeu R$ 1,3
milhão em dinheiro vivo na empresa Lunus, de Roseana e Murad.
Ao falar sobre a origem do dinheiro, Murad afirmou que uma parte era de Cantanhede, seu sócio numa pousada.
Já a proximidade com Lobão Filho,
primogênito do ministro Edison Lobão (Minas e Energia), tornou-se
pública em 2012, quando um iate naufragou na baía de São Marcos, na
costa de São Luís.
Cantanhede era um dos tripulantes. Após o
susto, ele deu entrevista à imprensa local. Um dos veículos registrou
uma fala do próprio empresário explicando que a lancha era dele e de
Lobão Filho “em cotas de 50% cada um”.
Em nota, Lobão Filho afirmou que vendeu uma lancha para Cantanhede, mas que eles nunca foram sócios.
DOCUMENTAÇÃO
Na disputa pelo contrato do TRE-MA, a
Atlântica apresentou apenas o sexto melhor preço do pregão eletrônico.
Três empresas com preços melhores foram desclassificadas por erros na
documentação. Outras duas não confirmaram a proposta original.
A suspeição por proximidade com um dos
candidatos não é a única dúvida que paira sobre o contrato firmado entre
o TRE-MA e a Atlântica.
Na segunda (8), o presidente do PC do B
local, Marcio Saraiva Barroso, entrou com uma representação no TSE
pedindo cancelamento da licitação por “ilegalidade”.
Barroso afirma que a empresa entregou um
documento falso no processo licitatório para comprovar seus índices de
liquidez e solvência.
O papel anexado como sendo da Atlântica
Serviços Gerais é da Atlântica Segurança, uma outra empresa de
Cantanhede, com outro CNPJ.
A Atlântica Segurança tem contratos com
alguns órgãos do governo Roseana. O mais conhecido é o da terceirização
da guarda do complexo penitenciário de Pedrinhas, no interior do Estado,
palco de mais de 60 assassinatos de presos em 2013, muitos deles com
tortura e decapitação.
Cantanhede não foi encontrado para comentar. O TRE-MA diz que só o timbre do papel anexado estava errado, não o conteúdo.
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